"" Bíblia sagrada: Estudo da inspiração plena e verbal das Escrituras

Estudo da inspiração plena e verbal das Escrituras

Cremos na inspiração plena e verbal das Escrituras.




Cremos que, na redação dos manuscritos originais, o Espírito Santo guiou os autores até na escolha das expressões, em todas as páginas das Escrituras, sem, portanto, anular suas personalidades. “Usou-os precisamente como eram, com seu caráter e temperamento, com seus dons e talentos, com sua instrução e cultura, com seu vocabulário, dicção, e estilo; iluminando-lhes a mente, incitou-os a escrever; reprimiu a influência do pecado sobre sua atividade literária, e guiou-os na escolha de suas palavras e nas expressões de seus sentimentos”.


Dessa inspiração plena e verbal decorre necessariamente a infalibilidade da Bíblia. Essa infalibilidade se refere aos autógrafos (escritos originais) da Bíblia. Esta é a posição evangélica e um dos fatores que nos distingue de outras igrejas cristãs.


a) Inspiração plena – significa que a inspiração abrange a Bíblia toda e sem nenhuma restrição. É o que afirmam os autores sagrados: “toda Escritura é inspirada por Deus” (2 Tm 3:16). Veja também 1 Ts 2:13; Ap 19:9; 21:5; 22:6, 18-19.


b) Inspiração verbal – uma inspiração plena deve ser até sobre as palavras. As palavras são inseparáveis da mensagem. Seu conteúdo não pode ser expresso sem palavras. Para expressar uma idéia sem erro, deve-se escolher muito cuidadosamente as palavras correspondentes.


“Quando examinamos como os autores do Novo Testamento fizeram uso do Antigo Testamento, às vezes encontramos indicação de que eles consideravam significativos cada palavra, sílaba e sinal de pontuação. Por vezes, todo o argumento baseia-se num pequeno ponto no texto que estão consultando. Por exemplo, em Mateus 22:32, a citação que Jesus faz de Êxodo 3:6, “Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó”, o argumento depende do tempo do verbo, que o leva à conclusão: “Ele não é Deus de mortos e sim de vivos”. No versículo 44, a base do argumento está num sufixo possessivo: “Disse o Senhor ao meu Senhor”. 


Neste caso, Jesus diz expressamente que quando Davi falou essas palavras, estava inspirado “pelo Espírito”. Aparentemente, Davi foi levado pelo Espírito a usar as formas específicas que usou, mesmo em detalhes tão minúsculos como o possessivo em “meu Senhor””.


Isso não quer dizer que os autores foram utilizados para fazer um ditado mecânico. Deus adaptava completamente Sua atividade inspiradora ao estado de espírito, à perspectiva, ao temperamento, aos interesses, aos hábitos literários e às particularidades de estilo de cada autor.


As Escrituras têm uma linguagem humana, mas seus ensinos são divinos. As Escrituras são ao mesmo tempo divinas e humanas, da mesma forma que Jesus Cristo era ao mesmo tempo Deus e homem.


Ø A inspiração faz com que a Bíblia tenha duas naturezas: por um lado, é a Palavra de Deus, e ao mesmo tempo, tem um componente humano que reflete a linguagem humana, a maneira de pensar humana, estilos literários e personalidades humanas. A sua natureza humana não implica que contém erros.


Falsas teorias da inspiração da Bíblia que devemos reconhecer e rejeitar:



a) Inspiração natural ou da intuição – Esta teoria defende que a Bíblia é apenas um livro humano notável, sem inspiração divina ou talento sobrenatural, no mesmo nível que muitas outras obras literárias. Essa teoria, na realidade, nega a verdadeira inspiração. Na exaltação dos autores humanos desse livro notável a divindade é excluída. É a expressão da incredulidade.


b) A Bíblia é apenas parcialmente inspirada por Deus:
* Conceitual - A inspiração foi apenas sobre os pensamentos do autor sacro, e não sobre as palavras dos seus escritos. No entanto, os pensamentos são expressos através de palavras.


* Apenas os ensinamentos morais e espirituais da Bíblia seriam inspirados (os relatos históricos não). – Haveria inexatidões (erros), lendas e noções julgadas falsas de acordo com nossas idéias modernas. Se uma testemunha (autor bíblico) usa uma linguagem errada, enganosa ou ignorante sobre um detalhe, seria difícil crer que ele diz a verdade com respeito ao restante.


* A Bíblia contém, mas não é a Palavra de Deus. De acordo com alguns teólogos, a Bíblia contém muitos mitos, lendas e erros. Para outros, a Bíblia não passa de “um testemunho dado à revelação”, e essa última se expressa através das contradições do texto. 


O teólogo Rudolph Bultmann se esforça para tirar todos os mitos do texto bíblico, a fim de conservar a essência do Evangelho, o “kerygma”. (O que ele eliminou: a pré-existência de Cristo; seu nascimento milagroso; sua divindade; seus milagres; sua morte substitutiva na cruz; sua ressurreição e a dos crentes; sua ascensão; seu retorno em glória; o julgamento final do mundo; a existência de espíritos bons e maus; a personalidade e o poder do Espírito Santo; a doutrina da trindade; a morte como consequência do pecado; a doutrina do pecado original, etc.) Depois de haver “desmistificado” a Bíblia, o que é que resta do “essencial do Evangelho”? 


Quem é que pode decidir o que é e o que não é inspirado se os dois estão misturados no mesmo texto? Esses teólogos nos dizem que a Bíblia não passa de uma palavra humana, mas que Deus pode fazer com que ela se torne Sua Palavra quando Ele nos dirige uma mensagem através dela.


* Somente Cristo é a “Palavra de Deus”- A Bíblia é apenas um eco incompleto de Jesus. O problema é que nós não podemos conhecer Jesus Cristo senão através da Bíblia. A Bíblia mesma não cessa de afirmar que ela é a Palavra de Deus.


c) A Bíblia seria um livro apenas divino, tendo sido ditada mecanicamente aos homens – O autor sagrado seria totalmente passivo, registrando e transmitindo a revelação como o faria hoje um gravador de fita magnética ou o teclado de um computador. 


Sua personalidade teria sido completamente colocada de lado, a fim de que o texto seja puro, sem qualquer elemento falível e humano. (Foi dessa maneira que o Alcorão foi supostamente dado a Maomé.) Um ditado mecânico teria produzido uma uniformidade completa de todas as páginas da Bíblia, o que está muito longe de ser o que verificamos. Constatamos, ao contrário, que Deus não anulou de forma alguma a personalidade dos autores. Podemos reconhecer seus estilos, temperamentos e sentimentos pessoais.


É verdade que certas passagens são ditados diretos ou ensinamentos exatos das palavras ditas por Deus. Porém, nesse caso isso é claramente mencionado (Ap 19:9; 2:5 ou os dez mandamentos). A inspiração não é mecânica, mas orgânica; não é mágica, mas divinamente natural; não um ditado morto, mas uma Palavra viva produzida pelo Espírito.


O Evangelho consiste precisamente no fato de que Cristo, na Sua perfeição, é ao mesmo tempo Deus e homem, da mesma forma como a Bíblia inteiramente inspirada é ao mesmo tempo produzida por Deus e pelo homem.


d) Os autores bíblicos eram homens cheios do Espírito e a sua inspiração era a mesma que todos os cristãos têm hoje. Isso é uma confusão com a iluminação, que veremos a seguir.
Hoje em dia, ninguém pode reivindicar a mesma inspiração divina da qual os homens que redigiram os livros da Bíblia beneficiaram.


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